sexta-feira, 1 de julho de 2011

Estrutura e formação de palavras

Estrutura de palavras


Conceitos básicos: Observe as seguintes palavras:
escol-a
escol-ar
escol-arização
escol-arizar
sub-escol-arização
Observando-as, percebemos que há um elemento comum a todas elas: a forma escol-. Além disso, em todas há elementos destacáveis, responsáveis por algum detalhe de significação. Compare, por exemplo, escola e escolar: partindo de escola, formou-se escolar pelo acréscimo do elemento destacável -ar.
Por meio desse trabalho de comparação entre as diversas palavras que selecionamos, podemos depreender a existência de diferentes elementos formadores. Cada um desses elementos formadores é uma unidade mínima de significação, um elemento significativo indecomponível, a que damos o nome de morfema.

Classificação dos morfemas:

Radical

Há um morfema comum a todas as palavras que estamos analisando: escol-. É esse morfema comum – o radical – que faz com que as consideremos palavras de uma mesma família de significação – os cognatos. O radical é a parte da palavra responsável por sua significação principal.

Afixos

Como vimos, o acréscimo do morfema –ar cria uma nova palavra a partir de escola. De maneira semelhante, o acréscimo dos morfemas sub- e –arização à forma escol- criou subescolarização. Esses morfemas recebem o nome de afixos.
Quando são colocados antes do radical, como acontece com sub-, os afixos recebem o nome deprefixos. Quando, como –arização, surgem depois do radical os afixos são chamados de sufixos. Prefixos e sufixos, além de operar mudança de classe gramatical, são capazes de introduzir modificações de significado no radical a que são acrescentados.

Desinências

Quando se conjuga o verbo amar, obtêm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos, amáveis, amavam. Essas modificações ocorrem à medida que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo (amava, amara, amasse, por exemplo).
Podemos concluir, assim, que existem morfemas que indicam as flexões das palavras. Esses morfemas sempre surgem no fim das palavras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desinências nominais e desinências verbais.
• Desinências nominais: indicam o gênero e o número dos nomes. Para a indicação de gênero, o português costuma opor as desinências -o/-a:
garoto/garota; menino/menina
Para a indicação de número, costuma-se utilizar o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/garotas; menino/meninos; menina/meninas.
No caso dos nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assume a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências verbais pertencem a dois tipos distintos. Há aqueles que indicam o modo e o tempo (desinências modo-temporais) e aquelas que indicam o número e a pessoa dos verbos (desinência número-pessoais): 
cant-á-va-mos
cant-á-sse-is
cant: radical

cant:
radical
-á-: vogal temática
-á-: vogal temática
-va-:desinência modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do indicativo)
-sse-:desinência modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjuntivo)
-mos:desinência número-pessoal (caracteriza a primeira pessoa do plural)
-is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda pessoa do plural)
Vogal temática

Observe que, entre o radical cant- e as desinências verbais, surge sempre o morfema –a.
Esse morfema, que liga o radical às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as desinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vogais temáticas.

• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando átonas finais, como em mesa, artista, busca, perda, escola, triste, base, combate. Nesses casos, não poderíamos pensar que essas terminações são desinências indicadoras de gênero, pois a mesa, escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. É a essas vogais temáticas que se liga a desinência indicadora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não apresentam vogal temática.

• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que caracterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a pertencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal temática -i pertencem à terceira conjugação. 
primeira conjugação
segunda conjugação
terceira conjugação
govern-a-va
estabelec-e-sse
defin-i-ra 
atac-a-va
cr-e-ra
imped-i-sse
realiz-a-sse
mex-e-rá
ag-i-mos
Vogal ou consoante de ligação 
As vogais ou consoantes de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Temos um exemplo de vogal de ligação na palavra escolaridade: o -i- entre os sufixos -ar- e -dade facilita a emissão vocal da palavra. Outros exemplos: gasômetro, alvinegro, tecnocracia, paulada, cafeteira, chaleira, tricota.

Formação de palavras

 Há em Português: palavras primitivas, palavras derivadas, palavras simples, palavras compostas. 

Palavras primitivas: aquelas que, na língua portuguesa, não provêm de outra palavra. 
Pedra, flor. 

Palavras derivadas: aquelas que, na língua portuguesa, provêm de outra palavra.
Pedreiro, floricultura. 

Palavras simples: aquelas que possuem um só radical. 
Azeite, cavalo. 

Palavras compostas: aquelas que possuem mais de um radical. 
Couve-flor, planalto. 

As palavras compostas podem ou não ter seus elementos ligados por hífen. 

Processos de formação de palavras

Composição 

Haverá composição quando se juntarem dois ou mais radicais para formar nova palavra. Há dois tipos de composição; justaposição e aglutinação. 

• Justaposição: ocorre quando os elementos que formam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapostos:
Pára-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira, girassol. 

• Composição por aglutinação: ocorre quando os elementos que formam o composto se aglutinam o que pelo menos um deles perde sua integridade sonora:
Aguardente (água + ardente), planalto (plano + alto)
Pernalta (perna + alta), vinagre (vinho + acre) 

Derivação por acréscimo de afixos 
É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (derivada) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A derivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética. 

 Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por acréscimo de prefixo.
In--------feliz des----------leal 
Prefixo radical prefixo radical 

• Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por acréscimo de sufixo.
Feliz----mente leal------dade 
Radical sufixo radical sufixo
• Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-se principalmente verbos.
En-------trist-----ecer 
Prefixo radical  sufixo
en--------tard-----ecer 
prefixo radical sufixo 


Outros tipos de derivação 

Há dois casos em que a palavra derivada é formada sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação regressiva e a derivação imprópria. 

• Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação de substantivos derivados de verbos. 
• Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é obtida pela mudança de categoria gramatical da palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas tão-somente na classe gramatical. 

Observe: 

jantar (substantivo) 
deriva de jantar (verbo) 
mulher aranha (o adjetivo aranha deriva do substantivo aranha) 
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo porquê deriva da conjunção porque) 


Outros processos de formação de palavras:
Hibridismo: é a palavra formada com elementos oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim) 
sociologia (socio: latim; logia: grego) 
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)
Por Marina Cabral
Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Equipe Brasil Escola